Debate sobre o fim da escala 6×1 entre empregados e empregadores
O fim da jornada de trabalho 6×1, proposta pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), tem gerado intensos debates entre trabalhadores e empregadores, com argumentos que ressaltam tanto os benefícios quanto os desafios dessa mudança para a realidade do mercado de trabalho brasileiro. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que visa garantir mais folgas aos trabalhadores, conquistou 1,5 milhão de assinaturas e já tramita no Congresso Nacional, promovendo discussões acaloradas tanto nas redes sociais quanto nos ambientes de trabalho.
A sobrecarga da jornada 6×1
A atual jornada de seis dias de trabalho com um único dia de descanso tem sido uma rotina exaustiva para muitos empregados, principalmente os que atuam em setores de serviços, como vendas e alimentação. Para esses trabalhadores, a escala 6×1 impõe sérios limites ao tempo disponível para lazer, cuidados pessoais e convivência familiar. Jaqueline Souza, vendedora de 23 anos, é uma das que defendem a mudança, destacando o estresse e a falta de tempo para si mesma como fatores determinantes. “Todo mundo precisa de tempo para estar com a família e se cuidar. Com essa rotina, fico estressada e, às vezes, sinto vontade de desistir”, afirma.
A pressão para se adaptar a uma rotina intensa sem descanso suficiente tem gerado impactos significativos na saúde mental e física de muitos trabalhadores. Yasmim Pereira, de 19 anos, enfatiza que com apenas uma folga semanal, mal consegue resolver questões pessoais como consultas médicas, o que compromete sua qualidade de vida. Além disso, Leiliane Rodrigues, vendedora de 34 anos, revela que a sobrecarga de tarefas, especialmente nos domingos, prejudica seu tempo com a família e sua capacidade de descanso.
Proposta da PEC: mais folga, mais qualidade de vida
A proposta de fim da jornada 6×1 visa proporcionar uma rotina mais equilibrada, permitindo que os trabalhadores tenham mais tempo para suas famílias e atividades pessoais. Segundo os defensores da mudança, a redução da carga de trabalho semanal contribuiria diretamente para uma melhora na saúde mental e na qualidade de vida dos empregados, além de promover um ambiente mais produtivo a longo prazo. A proposta, impulsionada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), fundado pelo vereador Rick Azevedo, vem ganhando apoio entre trabalhadores que, como Dianny Vieira e Claudiany da Costa, afirmam que a falta de descanso tem afetado diretamente sua saúde física e emocional.
O impacto econômico e a resistência dos empregadores
Apesar dos benefícios apontados pelos trabalhadores, a PEC encontra resistência por parte de empregadores e entidades do setor produtivo. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) alerta que a implementação da redução de jornada sem um ajuste nos custos poderia levar muitas empresas a reduzir o quadro de funcionários, diminuir salários ou até mesmo fechar estabelecimentos em determinados dias da semana. Fábio Queiroz, presidente da Associação de Supermercados do Rio de Janeiro, reforça a preocupação de que a redução da jornada aumentaria os custos de produção e, consequentemente, os preços para os consumidores.
Paulo Solmucci, da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), também expressa receio sobre o impacto da mudança nas microempresas, que representariam 95% do setor. Para ele, sem uma redução correspondente nos custos de operação, a mudança significaria um aumento significativo nos preços dos cardápios, prejudicando a competitividade das empresas.
Experiência positiva em empresas com escalas mais flexíveis
Por outro lado, empresas que adotaram escalas mais flexíveis, como a 5×2, têm relatado benefícios significativos. Eduardo Mattos, dono de uma hamburgueria, implementou a nova jornada após perceber a sobrecarga da escala 6×1. Ele constatou que, além de uma queda nas faltas e rotatividade, a mudança trouxe vantagens como aumento no desempenho da equipe e um diferencial competitivo na hora da contratação. “Estamos crescendo 10% ao mês. A mudança fez toda a diferença. A equipe entende como um benefício e se dedica mais”, destaca.
Conclusão: equilíbrio entre necessidades do trabalhador e do empregador
A proposta de redução da jornada de trabalho tem se mostrado uma necessidade urgente para muitos trabalhadores que sofrem com a sobrecarga da escala 6×1. Garantir mais tempo para a família, lazer e cuidados pessoais não só melhoraria a qualidade de vida dos empregados, mas também poderia resultar em uma maior produtividade a longo prazo. O debate, no entanto, exige uma abordagem equilibrada, levando em conta tanto as necessidades dos trabalhadores quanto os impactos econômicos para os empregadores. A solução pode residir em um meio termo, como escalas mais flexíveis e acordos coletivos, que respeitem as especificidades de cada setor e promovam o bem-estar de todos os envolvidos.