Nestlé não parou na Garoto e resolveu comprar outra grandona dos chocolates
A Nestlé, maior companhia de alimentos do mundo, fez uma aquisição de peso no mercado brasileiro de chocolates ao comprar o Grupo CRM, proprietário das marcas Kopenhagen e Brasil Cacau. O negócio, estimado em cerca de R$4,5 bilhões, marca uma nova etapa na estratégia de expansão da multinacional suíça no Brasil, onde já possui uma presença consolidada desde 1876.
O Grupo CRM, com 27 anos de mercado, é uma gigante franqueadora no setor de chocolates. Possui quase 1.000 lojas, emprega mais de 2.000 trabalhadores e conta com 590 franqueados. A Kopenhagen, fundada em 1928 por um casal da Letônia, David e Anna Kopenhagen, em São Paulo, conta hoje com 512 operações, cada uma faturando entre R$1 milhão e R$1,5 milhão ao ano. A Chocolates Brasil Cacau, outra marca do grupo, possui 399 lojas, com faturamento médio de R$700 mil a R$900 mil por unidade.
A aquisição, no entanto, ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O histórico da Nestlé com o Cade é notório. Em 2002, a empresa comprou a Garoto, mas a operação foi vetada em 2004 por resultar em uma concentração excessiva de mercado, com mais de 58% das vendas nacionais de chocolates. O caso se arrastou por anos na justiça, até que em 2023 o Cade finalmente aprovou a fusão, após a entrada de novos concorrentes que reconfiguraram o mercado e reduziram a participação da Nestlé/Garoto para 30%-40%.
O novo acordo com o Grupo CRM pode enfrentar desafios similares, já que a concentração de mercado é uma preocupação constante do Cade. No entanto, a Nestlé parece confiante de que o aumento da rivalidade e as condições impostas pelo Cade para a fusão com a Garoto serão suficientes para evitar problemas com a nova aquisição. Entre essas condições, a Nestlé não poderá adquirir ativos que representem 5% ou mais do mercado por cinco anos e deve comunicar ao Cade qualquer aquisição relevante por sete anos.
O desinvestimento do fundo Advent, que adquiriu o Grupo CRM em 2020, faz parte de uma estratégia maior, onde o fundo já havia vendido 85% de sua participação no Carrefour. A Nestlé, por sua vez, vê na compra da Kopenhagen e da Brasil Cacau uma oportunidade de fortalecer sua posição no mercado brasileiro de chocolates, onde atualmente detém cerca de 7% das vendas nacionais.
Impacto da Nova Aquisição
Com a compra da Kopenhagen, a Nestlé está expandindo sua presença no mercado brasileiro de chocolates, mas a aprovação pelo Cade é crucial para garantir que isso não resulte em monopólio. A presença de outras marcas fortes e a entrada de novos concorrentes no mercado são fatores que ajudam a manter a concorrência. Além disso, as condições impostas pelo Cade nas aquisições anteriores servirão de base para avaliar o impacto dessa nova aquisição.
Embora a compra do Grupo CRM pela Nestlé possa levantar preocupações sobre monopólio, o processo de aprovação pelo Cade e as medidas regulatórias existentes visam assegurar que o mercado permaneça competitivo. A análise cuidadosa e as possíveis imposições do Cade serão fundamentais para manter o equilíbrio e proteger os consumidores e outros concorrentes.