Ozempic é a nova moda no tratamento contra obesidade: Por que se tornou símbolo de desigualdade?
O relato contundente do endocrinologista renomado, Walmir Coutinho, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), lança luz sobre uma questão de saúde pública cada vez mais premente: a disparidade no acesso aos tratamentos contra a obesidade no Brasil.
O índice de massa corporal (IMC), uma medida fundamental na avaliação do peso corporal em relação à altura, torna-se um marcador de desigualdade evidente.
Enquanto patroas com IMC de 24 desfrutam dos avanços da medicina, tomando regularmente medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, suas empregadas domésticas, com IMC de 45, enfrentam a privação desses recursos terapêuticos.
A obesidade, já afetando um em cada cinco brasileiros, se torna uma carga desproporcionalmente carregada pelos mais pobres, aprofundando as divisões socioeconômicas.
A disponibilidade desses medicamentos representa uma “era de ouro” na medicina para o tratamento da obesidade. No entanto, o alto custo desses tratamentos os torna inacessíveis para grande parte da população, complicando ainda mais o cenário.
O Sistema Único de Saúde (SUS), até o momento, não oferece nenhum tratamento medicamentoso para combater a obesidade, agravando ainda mais a situação.
Qual é a complexidade do problema?
Especialistas como Rosely Sichieri, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), apontam para a necessidade de abordar as raízes do problema da obesidade, que envolvem não apenas questões médicas, mas também fatores socioeconômicos e políticos.
A indústria alimentícia é criticada por promover o consumo excessivo e pouco saudável, enquanto a indústria farmacêutica enfrenta críticas por buscar soluções medicamentosas em vez de abordagens mais holísticas.
A solução para essa equação complexa envolve ações em várias frentes. A queda das patentes dos medicamentos anti obesidade pode abrir caminho para uma maior competição e, eventualmente, redução de preços.
Além disso, é necessária uma abordagem colaborativa entre governos, empresas, profissionais de saúde e pacientes para encontrar soluções que garantam o acesso equitativo aos tratamentos.
Coutinho destaca a urgência da situação, comparando o impacto da obesidade com o da pandemia de COVID-19.
Se a humanidade encontrou maneiras de garantir a distribuição global de vacinas contra o coronavírus, é fundamental também abordar a crise da obesidade de forma abrangente e equitativa.
Em última análise, a luta contra a obesidade no Brasil não é apenas uma batalha médica, mas uma questão de justiça social e acesso igualitário à saúde.