Por que o ouro tirado do Brasil pelos portugueses foi parar na Inglaterra?
Desde o século 18, a relação comercial entre Grã-Bretanha e Portugal tem sido marcada por acordos que moldaram não apenas o comércio, mas também o curso da história econômica dos dois países. O Tratado de Methuen, assinado em 1703 e conhecido como o tratado dos Panos e Vinhos, simboliza o ápice dessa parceria estratégica, estabelecendo termos favoráveis para a troca de tecidos ingleses por vinho português.
No entanto, por trás das mercadorias negociadas, há uma história mais profunda de desigualdade econômica e dependência financeira. O historiador Leonardo Marques, da UFF, aponta que o ouro brasileiro desempenhou um papel crucial nesse relacionamento.
“O ouro do Brasil estava essencialmente financiando a economia britânica”, explica Marques, destacando que enquanto Portugal fornecia o precioso metal, a Grã-Bretanha dominava o mercado de manufaturados, criando um fluxo contínuo de riqueza em direção à ilha.
Quanto do ouro está com os britânicos?
Virgílio Noya Pinto, autor de “O Ouro Brasileiro e Comércio Anglo-Português”, quantifica essa dinâmica, sugerindo que até 60% do ouro brasileiro acabava nas mãos dos britânicos, alimentando não apenas o comércio, mas também sustentando um sistema financeiro emergente na Europa.
Esse fenômeno, segundo os historiadores, foi fundamental para a ascensão da Grã-Bretanha como potência econômica global, enquanto Portugal enfrentava desafios internos de industrialização e modernização.
Desenvolvimento econômico de Portugal
A abundância de ouro, embora enriquecedora para alguns, foi vista por muitos em Portugal como uma “maldição”, impedindo o desenvolvimento de uma economia diversificada e industrializada.
O diplomata D. Luís da Cunha expressou preocupações já no século 18 sobre a dependência contínua de Portugal em relação à Grã-Bretanha, sublinhando a natureza complexa e às vezes desigual dessa aliança histórica.
Assim, enquanto o Tratado de Methuen e o comércio de ouro brasileiro enriqueciam algumas partes da sociedade portuguesa, também estabeleciam um padrão de dependência econômica que moldaria as relações entre os dois países por séculos, influenciando profundamente o desenvolvimento econômico e social de ambos.